terça-feira, 12 de agosto de 2025

E continuo. A gostar de viver!


13 de agosto…
E não conto os anos —
conto os milagres.

Conto as manhãs em que, mesmo com dor,
acordei com vontade de amar.
As noites em que rezei em silêncio,
e senti Deus a velar por mim.

Fui moldado pelo sofrimento,
mas não vencido por ele.
As quedas fizeram parte do caminho —
mas foi nelas que a graça me levantou.

A minha vida tem sido dom.
Ofício de amor, de escuta, de cuidado.
Ao altar, ao Evangelho, ao povo de Deus.
E que povo tão bom o que me foi confiado!
Tantos rostos, tantas histórias,
tantas vidas que me ensinaram
que servir é também ser servido pelo amor dos outros.

A família…
ah, a minha família —
sangue, raiz, sustento.
Presença firme, mesmo na ausência.
Teceram em mim a fé, a coragem,
a alegria de ser quem sou.

E os amigos…
esses que preenchem os vazios com um simples existir.
Mesmo que liguem pouco, mesmo que o tempo passe.
Basta saber que estão.
E já não estou só.

E continuo.
A viver. A gostar de viver.
Mesmo com as limitações do corpo,
mesmo com a memória que, às vezes, se engana.

Sim, sou um milagre.
Milagre da intercessão de Maria,
essa Mãe que nunca falha,
a quem me confiei tantas vezes
como filho, como padre, como homem.
Costumo dizer-Lhe:
sou Teu milagre. E sou.

Hoje, não celebro só um número —
celebro a Graça.
Celebro o dom de ser,
de ter amado e sido amado.
Celebro os dias dados e os que ainda virão.
Até quando Deus quiser.

E depois…
peço p’ra cair nos braços d’Ele,
como quem regressa à Casa,
com o coração cheio de nomes,
de gestos, de afetos.
E descobrir, enfim,
que a liberdade maior
é ser eternamente de Deus.

Carlos Lopes

domingo, 3 de agosto de 2025

Situações que me deixam destoutiçado

Nestes últimos tempos, houve situações que me tiraram do sério.

1. Ao terminar hoje o Jubileu dos Jovens em Roma, um milhão de jovens de todo o mundo esteve com o Papa na Missa de encerramento. Alguns milhares eram portugueses.

Que tempo de antena teve este acontecimento na comunicação social portuguesa? que reportagens? Que presença de jornalistas? Não tenham dúvidas, se fosse um festival de verão com um terço desta gente, a comunicação social portuguesa não largava o acontecimento, entrevistava toda a gente e mais alguma coisa. Se fosse um escândalo no interior da Igreja, tínhamos telenovela no comunicação lusa... É esta falta de verdade que leva cada vez mais gente a abandonar a comunicação social, que, pela parcialidade, se desacredita. As pessoas já vomitam um jornalismo de "faca e alguidar", faccioso, só enxerga o lado doentio da realidade humana.

2. Um povo muito adverso a pensar. Gente primária para quem a tradição humana, o sempre se fez assim é que conta. Da meia noite de 3 até 7 de agosto, está em vigor a Situação de Alerta em todo o território continental. O que é que a "chico-espertice lusa" fez num local deste país que estava em festa para controlar a lei? Antecipou em meia hora o fogo de artifício. E o pior é que, pela reportagem que vi num canal de TV, pessoas dessa terra aprovaram abertamente a decisão da comissão de festas na antecipação do lançamento do foguetório, justificando com a tradição e a ausência de comparticipação monetária  para a festividade por parte do pessoal, caso não aparecessem os foguetes.
Entretanto, na situação tremenda em que se encontra o país quanto a incêndios, se um foguete tivesse pegado o fogo, eram a comissão e a população que iam apagá-lo? E se bombeiros tivessem ficado feridos ou falecido no combate a tal incêndio?
Sabemos que os portugueses adoram ficar de "papo ao ar" a ver os foguetes. Pessoalmente acho uma despesa quase inútil, mas respeito o gosto dos outros, O que  acho que deve ser condenável é a atitude egoísta e desumana de lançar foguetes só para manter a tradição, num contexto de incêndios que nos assaltam.

3. Ainda a propósito da calamidade dos incêndios:
- Como se quer que as matas sejam limpas quando nalguns lugares do interior só existem velhos que não têm forças para executar a limpeza das matas, nem têm dinheiro para mandar fazer?
- Que estão a fazer aqueles que recebem o rendimento mínimo e podem trabalhar? Se são pagos pelo dinheiro dos contribuintes, devem fazer algo pela sociedade. A limpeza das matas e dos campos era um trabalho que essa gente deveria fazer!
Se existem leis marcadas ideologicamente que o impedem, corrijam-se as leis. Senhores políticos, deixem de ser "caçadores de votos" e legislem em favor da justiça e da paz.
- As cadeias estão cheias. Que fazem os presos além de serem sustentados pelos impostos dos outros cidadãos? Essa gente deveria trabalhar, só lhes fazia bem,  formava-os para a vida e seriam úteis à sociedade que os sustenta.
- Os bombeiros, heróis nacionais, têm que trabalhar para sustentar a família. Tantas vezes, depois do trabalho, vão combater o fogo que outros deveriam ter evitado que acontecesse. Tantas vezes que abandonam a empresa para valer aos incêndios...
- Penas muito mais pesadas para incendiários, cumprindo essas penas em serviço em prol da sociedade.
- Penas pesadas para aqueles que se aproveitam dos incêndios - há quem diga que os poderão incentivar - para seu enriquecimento. Quem possa provocar um incêndio, com a finalidade de se enriquecer, é um monstro e deve enfrentar a oposição e determinação social e legal.
São situações  assim que atiram os eleitores para os braços do Chega.  Não se resolvem estes e outros casos,  estende-se uma passadeira  ao Chega...

4. A sociedade que muda e os comentadores que não mudam
Há tempos, dizia-se que Portugal é um país ideologicamente de esquerda. E esta ideia estava tão impregnada na mentalidade comunicativa que os canais de TV escolheram como comentadores, maioritariamente, pessoas que orbitam a esquerda. 
A sociedade está a mudar, a esquerda é hoje bem minoritária. Mas os comentadores continuam os de antigamente, desfilando as mesmas teorias e ideologias. Sinal de que não são escutados! Dito de outra forma, quem fica contente com estes comentadores é o Chega...
Parece que os responsáveis pelos meios de comunicação social entendem que para ser comentador são precisas duas garantias:
- orbitar a esquerda
- ser ateu ou agnóstico.
Pobres e desfasados critérios! 
Depois queixam-se que o Chega cresce!
O problema é que se o Chega ganha, não são só estes  que sofrem as consequências. É toda a sociedade. 

segunda-feira, 28 de julho de 2025

O melhor túmulo dos mortos é o coração dos vivos!

"Ter um amigo é bom, vê-lo partir faz sofrer"
A Dr.ª Arlete Ribeiro, a amiga Arlete, partiu para os braços do Pai.
A Capela de Santa Apolónia, inaugurada em 27 de julho, recebeu nessa mesma noite o velório desta amiga. Na tarde de hoje, foi aí celebrada a Missa de sufrágio. 
Confesso que me custou imenso presidir à Eucaristia. Foi um esforço super-humano e mesmo assim,  não consegui, aqui e ali, controlar a emoção.  Ser  Pároco não nos dispensa de emoções advinda das grandes amizades... 
Nesta grande amiga, tocava-me a determinação com que se entrega às causas, a amizade que cultivava com enorme delicadeza, a sua reguilice que me punha sempre bem-disposto, a preocupação com os outros, a maneira fina como ultrapassava situações de ingratidão que a vida sempre semeia. 
Algumas vezes me disse: "O senhor está tão cansado, vamos dar um passeio." E lá ia ela, o seu marido Zé Américo e eu.  Era observadora e decidida.
Desde sempre me habituei a que a sua casa e a de seus pais fossem  minha Betânia. Felizmente tenho outras. 
A família de Betânia - Lázaro, Maria e Marta - era muito amiga de Jesus. Àquela casa e àquela família ia Jesus para descansar, repousar, dialogar, desabafar, partilhar o pão do corpo e da amizade. 
A Arlete fez, durante anos, um trabalho maravilhoso na liderança do Grupo de Jovens da Paróquia que não a esqueceram, conforme testemunharam na Eucaristia de hoje. Mas tarde, liderou o grupo de responsáveis que voltou a erguer o escutismo nesta Paróquia.
Obrigado, amiga! Por tudo e por tanto. Não te esqueceremos. Descansa nos Braços de Deus e coloca no Coração do Pai teus pais, tua filha, teu netinho, teu marido, tua irmã, teus familiares e amigos, teu Pároco,  tua paróquia e toda a gente. 
Como Jesus diante do amigo Lázaro morto, também as lágrimas nos caem. Mas as lágrimas da dor, não ofuscarão o clarão da Luz do Amor de Deus. 
Jesus Cristo vive e tu viverás com Ele e n'Ele!
Senhor, Hoje e sempre a nossa oração pela Arlete e por todos os que partiram para Ti!

domingo, 18 de maio de 2025

Eleições Legislativas 2025

Resultados Globais NACIONAIS 2025

 Resultados eleitorais, Concelho de Tarouca:


 Resultados eleitorais, União de Freguesias de Tarouca e Dalvares Tarouca:




O povo disse, está dito. É assim a vida democrática, felizmente.
A AD ganhou, como diria António Costa, por "poucochinho". Para uma coligação  que estava no poder, não foi uma boa maioria. Mas ganhar é ganhar! 
O PS teve uma derrota estrondosa que provocou de imediato a demissão do seu Secretário Geral, desencadeando a realização de eleições internas no PS.
O Chega teve uma subida grande, tendo, neste momento, o mesmo numero de deputados  que o PS, podendo até ultrapassá-lo com os votos da emigração.
O Bloco de Esquerda  teve uma grande derrota. Apenas uma deputada eleita.  Também a CDU perdeu um deputado. 
O Livre foi o único partido da esquerda à esquerda do PS que subiu, tendo agora mais deputados do que aqueles que tinha na anterior legislatura. À direita, a Iniciativa Liberal  elegeu mais deputados do que na legislatura passada.

Algumas notas pessoais:

1. Derrota para muitos comentadores políticos. Do alto do seu ego, desligado do sentir e pensar dos cidadãos,  fechados no seu "chiquismo" balofo, muito fizeram para impor a ditadura da sua opinião. Nas urnas, os cidadãos deram-lhes uma lição. Oxalá que tenham a dignidade cívica para aprender alguma coisinha! 
2. A coligação vencedora, AD,  tem, sozinha, mais votos do que toda a esquerda. O que obrigará esta a refazer-se a fundo, se quiser viver e ser alternativa.
3. Achei totalmente desagradável  a intervenção de Pedro Nuno Santo no momento em que anunciou a sua demissão. Que arrogância e agressividade! Parece que não aprendeu nada com a voz das urnas! O senhor parecia que ainda estava em campanha eleitoral... Um banho de humildade cívica precisa, para reconhecer os méritos de quem venceu, bem como o seu falhanço eleitoral. 
A verdadeira democracia demonstra-se no modo como se sabe vencer e se sabe perder.
4. Não é por ter tido uma grande subida eleitoral que o Chega deixa de ser Chega. Todos, cidadãos portugueses, temos que lembrar o velho provérbio que diz: "Quem bem fizer a cama, bem se deita nela."
Não é, por na Europa e no mundo a extrema-direita estar na moda, que a extrema-direita deixou de ser um perigo. Pensemos todos nisto antes  que seja tarde de mais. 
4. Tem agora a palavra o Presidente da República. Os cidadãos fizeram a sua parte. Entra agora em cena quem de direito.  Não queremos ser o país europeu campeão em eleições legislativas. Que governe quem o povo elegeu e que todos os partidos sejam democraticamente responsáveis e saibam colaborar para o interesse nacional.

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Leão XIV é o novo Papa

Tarde de 8 de maio. Fumo branco na chaminé da Capela Sistina, no Vaticano. À 4ª votação, os cardeais elegeram o novo Papa: o Cardeal norte-americano, que também tem nacionalidade peruana, Robert Francis Prevost, de 69 anos, que escolheu o nome de Leão XIV.
Em primeiro lugar e como católico,  a minha comunhão com o novo Sumo Pontífice por quem rezo.
Espero que as primeiras palavras que dirigiu ao mundo: "A paz esteja com todos vós!" norteiam e sejam marcantes durante todo o pontificado. Paz e unidade dentro da Igreja. Paz no mundo. Paz entre povos e nações. 
Espero que as reformas iniciadas com o Papa Francisco  desçam ao terreno e sejam continuadas. 
Teria gostado muito que tivesse aparecido vestido  com a simplicidade com que apareceu Francisco.  Mas pode haver algo que me esteja a escapar e isso não signifique uma cedência ao conservadorismo. 
Parece uma pessoa  mais tímida, mas cada um é como é. Até me parecia bem que falasse mais raramente. Não é preciso poluir o verbo.  Importante é a palavra certa, dita de forma apropriada e no momento exato. 
Que sob Pedro e com Pedro, a Igreja caminhe sinodalmente. 

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Fiquei fora de mim...


Já lá vão bastantes anos. Ia fazer um trabalho pastoral a um povo. Decorria o Conclave para a eleição do novo Papa. Rádio do carro a funcionar. A emissão é interrompida para anunciar que surgira o "fumo branco", sinal da eleição do novo Papa. Paro o veículo fora da faixa de rodagem e espero, porque estava com tempo. Finalmente a noticia do eleito...

Fico fora de mim. Saio e passeio na via de um lado para outro. Aquela estrada quase não tinha movimento, por isso estava à-vontade. "Senhor, porquê!? Achas que é este tipo de Papa que a Igreja e o mundo precisam? O Espírito Santo meteu férias? Tanta gente a rezar, pedindo a luz do Espírito e Tu não ouviste nada!..." Enfim, uma revolta e um estado de nervos que nem vos conto nem vos digo.

Voltei ao carro e, sabendo que mais à frente havia um bica de água pura, andei e fui beber. Para afogar mágoas e na esperança de serenar.

Cheguei ao destino, ainda longe da hora marcada. Normalmente costumava aproveitar para falar com as pessoas, mas naquele dia, entrei logo na capela e ajoelhei diante do Santíssimo Sacramento. Uma vontade enorme de pedir perdão ao Senhor pela minha revolta, pois em vez de "seja feita a Vossa vontade assim na terra coimo no Céu", tinha barafustado com Deus por Ele não ter feito a minha vontade. E à medida que ali permanecia, uma paz e uma enorme serenidade me invadiram. Como é bom saborear a misericórdia e o carinho de Deus por nós!

Claro que, como muita gente, tenho cá dentro o meu desejo. Não gostava que fosse eleito alguém da linha tradicionalista, e e muito menos ultratradicionalista. Esta gente (Cardeais, Bispos, Padres, Leigos), pequeno número, é  barulhenta, gosta de estar na crista da onda e de dar uma ideia de grandeza numérica que não tem. Gostava, clara e decididamente, que fosse alguém da linha de Francisco. Talvez alguém que falasse menos. Quem está à frente, tem que falar pouco, mas bem e oportunamente. Se fosse o Cardeal Tagle, ficava contente, Senhor! Mas Tu e só Tu é que sabes . E ainda bem.
Só Deus sabes tudo! Quando foi eleito o Grande João XXIII, homem tido como da linha tradicionalista, alguém augurava que seria ele o despoletador da grande reformas da Igreja no nosso tempo, com o Concílio Vaticano II?!
Por isso, para lá dos gostos, opiniões, desejos, análises, sensibilidades, deixemos Deus trabalhar e abramo-nos à  surpresas divinas. 

Entretanto, rezemos: 
Senhor Jesus,
Antes de deixares o cenário deste mundo, disseste a todos os apóstolos:
“Eu estarei convosco, até ao fim dos tempos.”
Sentimos a Tua presença reconfortante e temos a certeza de que permaneces sempre ao leme da barca da Igreja e a guias com mão firme no meio das tempestades da história.
Neste momento de ansiosa expectativa, envia o Teu Espírito Santo, para que ilumine a mente dos Cardeais na escolha do sucessor de Pedro: que eles escolham aquele em quem pensaste e que designaste para guiar hoje o Teu rebanho.
Virgem Santa,
Tu que rezaste com os Apóstolos no Cenáculo e esperaste com eles a efusão do Espírito Santo;
reza connosco e por nós e obtém para nós o dom de um novo Pentecostes de fervor, de entusiasmo e de alegre obediência ao Evangelho de Jesus.
Amén.
(Cardeal Comastri)

quinta-feira, 1 de maio de 2025

O que me comprometo em memória de Francisco

1.

O corpo do Papa foi sepultado no sábado na Basílica de Santa Maria Maior, no centro de Roma.
Era o sítio onde Francisco se refugiava em oração. Acontecia quase sempre ao regressar de alguma viagem ou antes de um encontro ou decisão importante – o Santo Padre sentia a presença da Virgem Maria, a presença da Mãe que venerava.
Um dia passou por uma porta que levava a uma sala que guardava candelabros. Francisco pensou logo que seria ali, que era aquele o lugar onde ficaria.
2.
Não dentro do Vaticano, não na cripta, não em três caixões como era da norma, mas apenas num único caixão.
O caixão de um pastor, de uma pessoa como nós, de alguém que nunca quis deixar de ser um homem.
No sábado foi sepultado numa Basílica onde está guardada a memória de sete papas, o último dos quais Clemente IX, “adormecido” em 1699.
A cerimónia foi simples, a mais simples de que as nossas gerações terão memória.
3.
Tenho pensado muito sobre a sua vida, o seu exemplo.
Pensado acerca deste mundo perversamente desordenado, pensado no que nos deixou, no que sacrificou e arriscou.
Eu, católico não praticante.
Eu, sempre tão defensivo no comprometimento.
Eu, muitas vezes a defender-me de qualquer tipo de risco, a falar dos problemas e desafios sem meter as mãos na massa, sem arriscar.
Eu, tantas vezes desconfiado da Igreja Católica, dos pavoneios, do conservadorismo, das sombras de poder e dos vendilhões do tempo dentro da hierarquia, de muita da elite da Igreja Católica portuguesa.
Tenho pensado tanto em Francisco.
O mínimo que posso fazer é oferecer o melhor de mim, converter-me sem reticências.
Fazer as comunhões e comprometer-me com uma ideia de transcendência.
Vou fazê-lo em honra do legado que nos deixou o homem que agora repousa no centro de Roma, o nosso Francisco que finalmente pode estar perto das pessoas comuns que não podem ver atraiçoado o seu legítimo direito à esperança.

sexta-feira, 25 de abril de 2025

O Cravo Que Falta Florir

 A Liberdade chegou num Abril em flor, mas não veio inteira. Veio prometida, urgente, como se dissesse: "Estou aqui, mas sou vossa para construir". E assim é. Porque liberdade não é um ponto de chegada. É caminho. E neste caminho, há ainda passos por dar, rostos por ouvir, vidas por respeitar.

Ainda falta liberdade quando há quem trabalhe o mês inteiro e continue a não saber se vai conseguir pagar a renda. Quando há quem adoeça e tenha de esperar meses por um tratamento, como se o tempo pudesse ser negociado. Falta liberdade nas filas de quem procura casa, nas prateleiras vazias de quem escolhe entre aquecer a casa ou alimentar os filhos. Falta quando o elevador social está avariado e só sobe para alguns.
Falta liberdade quando se envelhece sozinho, sem cuidados nem companhia, como se a velhice fosse castigo e não coroa. Quando as mulheres ainda são mandadas calar, ou quando se levantam vozes contra quem ama de forma diferente, veste diferente, reza — ou não reza — de maneira própria. Falta liberdade onde ainda se tem medo de ser quem se é.
Falta liberdade quando se estuda com fome. Quando se desiste dos sonhos por cansaço. Quando se vive nas margens da cidade, sem acesso à mesma dignidade de quem vive no centro. Falta liberdade quando a cultura é luxo e não direito, quando a política parece distante e a justiça pesa mais sobre os que menos têm.
E, ainda assim, o espírito de Abril permanece. Não como memória que se repete, mas como impulso que nos convoca. A liberdade é viva ou não é. É presente ou é perda. E não se faz apenas de palavras, mas de condições reais: acesso, cuidado, escuta, partilha. É pão na mesa, tempo para os filhos, saúde no corpo, futuro nas mãos.
O cravo do 25 de Abril ainda floresce, sim — mas há muitos canteiros por cuidar. E a luta, essa, continua. Porque a liberdade só é verdadeira quando cabe dentro da vida concreta de todos. Até lá, não está completa.
Fonte: Padre João Torres, Facebook

quarta-feira, 23 de abril de 2025

OS PAPAS TAMBÉM MORREM


“Tudo tem uma duração. Todos temos. Até o papa tem uma duração, lá foi”, ouvia-se ontem nas redes sociais. É o óbvio, apesar de ter sido dito (e sentido) de um modo muito estranho... Recebi a notícia no final da primeira Eucaristia, através de um amigo e, por momentos, voltamos à igreja para, numa oração simples, agradecer ao Senhor o dom do seu pontificado. Na Eucaristia seguinte, numa outra paróquia – a anteceder a Visita Pascal - tivemo-lo presente nas nossas orações e intenções. Sobretudo em ação de graças!

Não sou papista (adorador de papas) nem a minha fé depende dos papas. Cresci com São João Paulo II (morreu também no dia da Visita Pascal numa das comunidades); aprendi e fui amadurecendo com muitos dos escritos de Bento XVI; ouvia e lia atentamente o papa Francisco. Qualquer cristão – minimamente formado e informado – sabe que a fé é encontro com Jesus: «Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar» (EG 3). Por isso, o Evangelho é a bússola mais fiável, a Doutrina e Magistério da Igreja os melhores garantes da sua leitura/interpretação.
Curiosamente, não me surpreende o fadário laudatório à volta do papa Francisco. Por duas ordens de razão: uns, sempre o usaram como argumento pessoal para uma putativa fé (subjetiva, seletiva, egocêntrica, sincretista), facilmente contradita pelas opções diárias; outros, montados nas suas afirmações soltas, nos seus apartes livres/dúbios evangelicamente e nas suas iniciativas informais viam o caminho desbravado para levar a água ao seu moinho, mormente o carreirismo, ânsia de protagonismo, culto da personalidade (vaidade sob a capa de humildade), oportunismo demagógico, serviços e mordomias.
Na minha vida, morreu mais um papa, mais um “Servus Servorum Dei”. Li TODOS os seus documentos oficiais. Anotei os critérios e prioridades do seu magistério. Citei-o centenas de vezes, não porque estava na moda ou caía no goto do povo, mas porque acreditava fazer sentido. O respeito que lhe devoto não é maior ou menor que aos seus antecessores. Não alinho em comparações, nem sou tão limitado para cair na tentação de insinuar que há uma Igreja antes do Papa Francisco e outra depois. Só por má-fé ou ignorância supina da História da Igreja alguém poderia ter tacanho atrevimento.
Preocupa-me a excitação de tantos por causa de “pormenores” e o desprezo total pelas grandes causas que ele abraçou: O Evangelho no centro da vida da Igreja (“Evangelium Gaudium”); a Santidade como meta de todos os cristãos (“Gaudete et Exsultate”); o cuidado de todos pela Casa Comum (“Laudato Si”), mormente a ecologia (“conversão ecológica”), o cuidar da Natureza (clima, água), o combate às desigualdades sociais e injustiças; a Fraternidade e Amizade Social (“Fratelli Tutti”), como a solidariedade, defesa dos direitos dos povos, da paz, a luta contra a pobreza e os excluídos; assumir o problema e encontrar soluções para a crise climática (“Laudate Deum”). Não me parece que sejam causas levadas a sério por muitos que o têm elogiado tanto nestes dias… Típico.
Também me preocupa que o recurso, sem mais, a chavões usados pelo papa Francisco seja tão-só a confirmação da demagogia e hipocrisia (oportunismo) tão caros a tantos e tantas. Por exemplo: «Na Igreja ninguém está a mais, há espaço para todos: todos, todos, todos.» E esclareceu (no avião de regresso da JMJ23): «A Igreja é aberta a todos, depois existem leis que regulam a vida dentro da Igreja. Alguém que está dentro está de acordo com a legislação, o que você diz é uma simplificação: “Não pode receber os sacramentos”. Isso não significa que a Igreja seja fechada, cada um encontra Deus pelo próprio caminho dentro da Igreja, e a Igreja é mãe e guia cada um pelo seu caminho.»
Outros sintomas curiosos é ouvir padres carreiristas a elogiar e chorar o papa Francisco, mas a viver em contramão total com as suas maiores denúncias: “O carreirismo é uma lepra. Por favor, nada de carreirismo!” «Pode acontecer que o coração se canse de lutar, porque, em última análise, se busca a si mesmo num carreirismo sedento de reconhecimentos, aplausos, prémios, promoções; então a pessoa não baixa os braços, mas já não tem garra, carece de ressurreição. Assim, o Evangelho, que é a mensagem mais bela que há neste mundo, fica sepultado sob muitas desculpas.» (EG 277)
Também há quem goste de citar algumas das suas frases soltas (fora do contexto, outras são mesmo “fake-news”) e viva em total mundanismo: «O mundanismo espiritual, que se esconde por detrás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja, é buscar, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal. É uma maneira subtil de procurar os próprios interesses, não os interesses de Jesus Cristo.» (EG 93) «O mundanismo espiritual leva alguns cristãos a estar em guerra com outros cristãos que se interpõem na sua busca pelo poder, prestígio, prazer ou segurança económica. Além disso, alguns deixam de viver uma adesão cordial à Igreja por alimentar um espírito de contenda. Mais do que pertencer à Igreja inteira, com a sua rica diversidade, pertencem a este ou àquele grupo que se sente diferente ou especial.» (EG 98)
Eu agradeço o dom do seu pontificado e tudo quanto me ensinou. Enquanto uns vão alinhando estratégias para a sucessão (“rei morto, rei posto”); e outros se vão deitando a adivinhar ou sugestionar o que deveria ser a seguir, prefiro meditar, séria e silenciosamente, as palavras finais do seu Testamento: «Que o Senhor dê a merecida recompensa àqueles que me amaram e continuam a rezar por mim. O sofrimento que se tornou presente na última parte da minha vida, ofereço-o ao Senhor pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos.»
(P. António Magalhães Sousa, in Facebook)

segunda-feira, 21 de abril de 2025

"Em Deus vivemos, nos movemos, e existimos"

Obrigado, Papa Francisco!

Nesta manhã do Anjo da Páscoa,
segunda-feira da oitava da Páscoa,
acordo um pouco mais tarde,
com a notícia da última Páscoa
do tão querido Papa Francisco.

É a Páscoa de Cristo em Francisco.
É a Páscoa de Francisco na Páscoa de Cristo.
Santa Páscoa, Papa Francisco.

Retenho no coração as primeiras
e as últimas imagens,
de alguém cujo nome
foi profecia e foi programa de vida.

Todos, todos, todos
estamos profundamente agradecidos,
mesmo se não tivermos
todos o meu grau de consciência
do imenso dom que foi o Pontificado
do Papa Francisco
para a Igreja e para o mundo.
Um verdadeiro sopro do Espírito,
de inspiração, de saída, de encontro.

Senti nas suas últimas visitas
à Basílica de Santa Maria Maior
e de São Pedro e ao presídio de Roma,
que o Papa estava a «despedir-se».

E agradeço a Deus não ter sido preciso
apresentar a 'resignação'.
O Papa não a pediu,
certamente não o fazia,
porque sabia bem como se sentia.
Deixemo-nos ancorar e encorajar,
no testemunho fantástico que este Papa
nos deixou de Cristo vivo no meio de nós.

Obrigado, Papa Francisco.
Chorámos todos, todos, todos,
por Ti, com Aquelas lágrimas
das quais disseste são a «lente»
para conhecer e reconhecer Jesus.

Santa Páscoa, Papa Francisco.
Amaro Gonçalo, Facebook

sexta-feira, 11 de abril de 2025

5 coisas que Jesus nunca disse, mas as pessoas acreditam

Porque está na moda,

Porque é socialmente correto,

Porque a comunicação social e as novas tecnologias insistem e persistem  em afirmar, como se fossem deuses,

Porque as pessoas gostam de ouvir o que lhes convém,

Porque a muitos interessa justificar com o nome de Jesus as suas afirmações,

HÁ 5 AFIRMAÇÕES QUE CIRCULAM POR AÍ E QUE JESUS NUNCA PROFERIU. 

Veja aqui

quarta-feira, 9 de abril de 2025

"Ter um amigo é bom, vê-lo partir faz sofrer"

Diz a canção:
"Ter um amigo é bom, vê-lo partir faz sofrer".
Apenas por isto: pressentir claramente que o caminho é errado, não tem saída e acarretará enorme sofrimento para o amigo que o segue.
Mas a liberdade humana acima de tudo...

EM FUGA LIVRE PARA O ABISMO...
Decidida e obstinadamente, aquela pessoa caminha para o abismo. Nada se pode fazer, porque... essa pessoa não quer nem aceita.
Mistérios da liberdade humana!
Alguns apoiam, incentivam, concordam, porque é fixe, porque gostam alinhar na onda, porque é socialmente correcto...
Na hora do desastre, muitos destes "assobiarão para o lado", outros olharão de banda, uns tantos rirão de gozo, e outros fingirão que não conhecem a vítima...
Na hora da verdade, a pessoa que caminha deliberadamente para o abismo reconhecerá que o mundo não tem a dimensão do seu umbigo, que na vida não vale tudo, que a ingratidão brutifica, que não se cura uma borracheira com outra borracheira, que há quem nos queira bem e quem nos utilize...

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Os padres impecáveis não existem

Os padres não têm de ser melhores que ninguém. Têm de, como todos os cristãos, tentar ser melhores. Claro que isso não justifica nem desculpa os erros dos padres. Não desculpa as suas más opções pastorais ou eclesiais. Não desculpa as vezes em que usam a sua vocação como um trampolim para os seus interesses pessoais ou gerem as paróquias e os sacramentos em discordância com as leis da Igreja ou o Evangelho. Não desculpa quando não se esforçam por serem melhores pastores. Mas os padres são, antes de mais, pessoas. E são pessoas com contextos, circunstâncias e vivências das quais não se conseguirão distanciar nunca, porque são também fruto disso. E se é certo que muitos padres se estão a marimbar para o que os outros pensam, também há quem sinta nos ombros um peso e uma pressão que superam as suas forças. O modelo de perfeição evangélica que é exigido aos padres, como se tivessem sempre de estar disponíveis, preparados e dedicados, acaba por afogar as suas vidas. O padre não pode deixar de viver a sua vida e de fazer a sua caminhada de fé para se tornar um funcionário das coisas de Deus ou da Igreja. O padre tem de viver em Deus como é, como tenta ser, como se esforça por ser, mas não como todo o mundo lhe exige ou espera que seja. Os padres impecáveis não existem. Existem apenas os esforçados e os que não se esforçam. Existem, quando muito, os que não ligam a nada e os que, porque ligam a tudo, vivem o ministério como um peso. Repito. Os padres impecáveis não existem.

Fonte: aqui

quinta-feira, 3 de abril de 2025

João Paulo II (1978-2005): O Papa dos paradoxos morreu há 20 anos

 

João Paulo II. Um longo pontificado. 

Veja aqui uma análise  deste pontificado. 

Concordando ou discordando, há muita objetividade nesta análise. 

segunda-feira, 24 de março de 2025

«Uma Igreja que não fala dos problemas das pessoas não pode esperar que os jovens se aproximem» – Filipe Moisés Francisco


 Filipe Moisés Francisco, doutorando em Engenharia do Ambiente pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUCP), que se assume como católico praticante,  considera que a Igreja deve ser mais interveniente face às questões sociais e políticas do país.

“Acho mesmo fundamental que se fale dos problemas que as pessoas têm hoje, porque uma Igreja que não fala dos problemas das pessoas, voltada, única e exclusivamente para as questões da moral, e que se esquece que o dia-a-dia das pessoas vai muito além disso, as dificuldades das pessoas vão muito além disso, não pode esperar que os jovens se aproximem”, refere o convidado da entrevista semanal Ecclesia/Renascença, publicada e emitida aos domingos."

“Espero que os nossos padres e os nossos bispos façam o seu trabalho e, sobretudo, que se pronunciem mais sobre os problemas dos jovens. Eu não ouço os bispos a falarem dos problemas da habitação, dos problemas da precariedade”, adverte.

O entrevistado lamenta os problemas que os estudantes enfrentam, para encontrar habitação, e considera preocupante a precariedade laboral entre os trabalhadores mais jovens.

Eu acho que nós ainda não estamos a aproveitar suficientemente bem este período em que temos a graça, porque é mesmo uma graça, de termos o Papa Francisco”.

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sábado, 15 de março de 2025

sexta-feira, 7 de março de 2025

NEM NA MORTE SOMOS LIVRES!


Um dos fenómenos que mais me inquieta, em quase trinta anos de padre, é o modo como são tratadas (ou destratadas) as pessoas aquando da sua morte. Sobretudo no que diz respeito ao funeral católico. Até porque creio piamente que a sua salvação/condenação não depende de as levar ou não à igreja, ter ou não “missa de corpo presente”… Duas dúvidas existenciais (e provocatórias):
(1) Se o defunto, ao longo da sua vida, nunca quis nada com a igreja, não participava na Eucaristia e da comunidade, vivia como ateu (agnóstico ou pagão), por que é obrigado pela família a ter funeral religioso? Não será uma falta de respeito para com o próprio defunto? Se no exercício da sua liberdade, optou por viver afastado, agora que não fala, não anda, não vê e não ouve (nada pode decidir) outros decidem por ele, contra aquilo que foram as suas escolhas terrenas e os seus critérios de vida? Se fosse comigo, antes de morrer, deixaria bem claro que não permitiria tamanho destrato; ou, se fosse minha responsabilidade organizar o funeral desse defunto, jamais aprovaria essa hipótese. Sempre por respeito ao defunto e consciente de que Deus não faz depender a sua salvação/condenação deste “evento social”.
(2) A segunda dúvida prende-se com a sempre rápida canonização dos defuntos: “era boa pessoa”. Nessora, acontece uma milagrosa amnésia coletiva que leva a esquecer as condutas pouco recomendáveis de alguns defuntos (violento, corrupto, adúltero/infiel, vigarista, mentiroso, viciado, má língua, avarento, preguiçoso, etc.) e vão debitando um rosário de elogios e virtudes que, em alguns casos, me obriga a confirmar se, no caixão, está mesmo o defunto que consta do funeral. Por haver o risco de “errar no alvo” recomenda o Ritual das Exéquias: «Depois do Evangelho deve haver uma breve homilia, evitando, porém, a forma e o estilo de um elogio fúnebre» (nº 79).
É um facto: há muitos a viver longe de Deus, agarrados às suas verdades, paixões, caprichos e prazeres. Vidas mundanas. Não querem saber de Deus, nem da Igreja nem da Missa ao Domingo. Escolhas. Decisões. Quando morrem, mesmo que raramente tenham posto os pés na igreja (e até se rirem e criticarem quem o faz), a família obriga-os a ir. Como se, passar por lá num caixão carregado aos ombros, fosse livre trânsito para o Céu!
(P. António Magalhães Sousa), aqu

sábado, 1 de março de 2025

A Humilhação que Não Foi

 Fiquei sem ar, confesso. Mas no final, fiquei orgulhoso do Presidente Zelenski. Num mundo, cada vez mais, sem líderes, hoje senti-me representado.

Há cenas que entram para a História não pelo que se disse mas pelo que ficou por dizer. O espetáculo que se desenrolou na Sala Oval foi um desses momentos em que o mundo piscou os olhos, desconfortável, horrorizado, estupefacto, enquanto um Presidente de um país devastado pela guerra era transformado em objeto de escárnio pelo Presidente do mais poderoso país do mundo, e pelo seu fiel escudeiro, um lambedor de botas com nome de detergente.
O que se passou ali foi uma humilhação, sim, foi, mas não para Zelensky.
O Presidente da Ucrânia entrou num covil de hienas, quais marionetas, orquestradas pelo ditador russo, sabendo bem onde estava. Era uma armadilha montada com a precisão cirúrgica dos cobardes, desenhada para transformá-lo num pedinte, num cão maltratado que, na ótica dos anfitriões, deveria mendigar com as patas estendidas. Mas eis o problema dos ditadores e dos seus bajuladores: confundem dignidade com fraqueza, confundem coragem com desespero.
Zelensky ficou ali, sentado, ouvindo palavras agressivas, palavras mentirosas de gente pequena que se acha grande. Não ripostou com raiva, nem se dobrou em subserviência. Limitou-se a exteriorizar o que lhe ia no peito, com humildade mas sem ceder. A sua postura, naquele momento, foi suficiente para que a farsa se revelasse.
Trump, o eterno fanfarrão, e J.D. Vance, o seu ajudante de palco, atacaram como pugilistas furiosos cheios de coisas dopantes. Julgavam eles que, como crianças inocentes, estavam a derrubar um castelo de areia. Mas o problema, para eles, claro, é que o castelo se manteve de pé.
A guerra não terminou, a Ucrânia não caiu, eles não ficaram com os biliões do minério e o homem diante deles era a prova viva de que, afinal, nem sempre os maus vencem. Eles queriam ver um derrotado, mas o que encontraram foi alguém que, mesmo esmagado pelo peso dos que se julgam donos do mundo, se recusa a ser pequeno.
A História tem destas coisas. Quem ri hoje pode estar a chorar amanhã. E os ditadores, por mais que se armem de tanques e de asseclas servis, nunca entendem isto: quando a hora chega, os povos lembram-se de quem lutou, não de quem gritou mais alto.
Zelensky não precisou de vencer aquela batalha verbal. O embaraço ficou para os outros. A diferença entre um líder e um palhaço é que o primeiro não precisa de plateia.
E os que hoje gargalham sobre o que se passou na Sala Oval? Que aproveitem o espetáculo enquanto podem. Porque no fim, e a História nunca falha nisto, quem humilha será sempre o humilhado.
Obrigado Presidente Zelensky!

Paulo Costa, aqui